Pode me chamar de um presbiteriano da velha escola, mas para mim, não há nada tão importante como a pregação da Palavra de Deus. Eu não acho que PT Forsyth foi ousado demais ao sugerir que "o cristianismo fica de pé ou cai com a sua pregação." A pregação não é apenas um apêndice às muitas atividades da igreja, um auxílio às tarefas mais importantes de um pastor, ou um suplemento para a espiritualidade de uma congregação. Ela está no centro. A pregação é o principal método que Deus usa para operar a fé (Rm 10:17), para salvar pecadores (1Co 1:21), e para fortalecer espiritualmente (Rm 16:25). Por essa razão o Catecismo Menor de Westminster diz que "O Espírito de Deus torna a leitura, especialmente a pregação da Palavra, meios eficazes para convencer e converter os pecadores, para os edificar em santidade e conforto, por meio da fé para salvação." É por isso que quando as pessoas têm dificuldade com a pregação do seu pastor isso pode gerar uma grande crise espiritual.
Recentemente eu estive conversando com um amigo que está passando por esse problema. Faz algum tempo que ele não tem se sentido muito encorajado ou edificado pela pregação na sua igreja local. Não porque está sendo pregada falsa doutrina ou qualquer coisa assim. Na verdade, é por causa da forma com que o seu pastor lida com textos específicos, o comportamento dele no púlpito, a falta de organização, a falha dele em aplicar, e coisas como assim. Isso criou uma atmosfera onde é imensamente difícil acompanhar e tirar muito proveito. Ele não está sozinho. Infelizmente — e eu escrevo isso como um pregador que sabe que tem mais pontos fracos do que fortes e mais inabilidade do que habilidade — eu não creio que a igreja de hoje será lembrada por sua solidez na pregação. James Henley Thornwell lamentou sobre isso nos seus próprios dias: "Há pouca pregação no mundo." Tragicamente, o resultado é que congregações estão sofrendo e as ovelhas de Cristo estão ficando desnutridas. Não, eu não estou falando daqueles que criticam tudo excessivamente. Pessoalmente, essas pessoas não me são muito úteis. Na verdade, eu quero dizer que existem ovelhas no pasto de Cristo que, semana após semana, estão vindo famintas e com sede, sofrendo e com feridas, vazias e machucadas, lutando e se esforçando, que não estão — por qualquer que seja a razão — experimentando o poder de Deus a partir do púlpito. A pergunta genuína dessas pessoas, a pergunta do meu amigo, e a pergunta que eu tenho me feito é: "O que eu devo fazer?"
Infelizmente, algumas vezes a resposta que tenho ouvido da liderança é "aguente e fique quieto." Talvez não de forma tão clara, mas certamente nesse sentido. Agora, eu concordo com Martyn Lloyd-Jones, que escreveu: "Eu afirmaria como axiomático que os membros jamais devem ditar, ou controlar, o púlpito." Mas o púlpito precisa alcançar aqueles que estão nos bancos da igreja. Um pregador precisa se comunicar efetivamente tanto quanto possível com aqueles que estão diretamente na sua frente. No final das contas, não importa se ele é capaz de se comunicar com os seus professores de seminário, o presbitério, sua igreja anterior, seu colegas de ministério ou amigos, ou até mesmo com a sua mãe. Ele precisa se comunicar com aqueles que estão nos bancos. Se isso não está acontecendo, a lei da mordaça não é a solução, a solução é o cuidadoso trabalho pastoral. Então, como eu posso responder a essa pergunta? Aqui estão algumas sugestões
1. Proteja a Prioridade do Púlpito: Diante de dificuldades como essa é fácil adotar uma visão bastante inferior da pregação e rebaixá-la a um lugar secundário ou até mesmo terciário. Não se entregue a essa tentação sutil. Isso seria como um marido que, tendo dificuldade em se comunicar com a sua esposa, decide que o seu casamento não é mais importante. Essa não é a resposta! Então, mesmo diante de uma dificuldade como essa, lute para manter a prioridade do púlpito na sua vida. A Bíblia nunca tem uma visão inferior da pregação — e nós também não devemos ter. Ore por isso, crie expectativa e conte com o poder do Espírito.
2. Atente para a Forma como Você Ouve: A pregação é algo exigente. Não apenas para aquele que deve se preparar diligentemente e transmitir, mas também para aqueles que ouvem. Para pregadores e membros igualmente, não é fácil ser um bom ouvinte da Palavra. É por isso que Jesus advertiu: "Considerem atentamente como vocês estão ouvindo" (Lc 8:18). O autor de Hebreus também nos lembra: "Pois as boas novas foram pregadas também a nós, tanto quanto a eles; mas a mensagem que eles ouviram de nada lhes valeu, pois não foi acompanhada de fé por aqueles que a ouviram" (Hb 4:2). Ouvir a pregação da Palavra é um exercício de fé. Se você não está se beneficiando dela, prepare-se em oração, ouça diligentemente, e reflita agradecidamente quanto aquilo que você ouviu na pregação.
3. Cuide da Atitude do seu Coração: A parábola do semeador nos lembra de que há muitos diferentes corações sobre os quais a semente é lançada — a beira do caminho, o terreno pedregoso, entre os espinhos, e a boa terra. Certa vez alguém escreveu: "Certamente você já ouviu as parábolas de Jesus, talvez muitas vezes. Mas elas leram você?" A intenção dessa parábola é que você possa examinar o seu próprio coração. Se não for muita ousadia minha: a condição do seu coração está mais ligada a como você ouve do que com qualquer outra coisa. Novamente, como o autor de Hebreus advertiu: "Se hoje vocês ouvirem a sua voz, não endureçam o coração" (Hb 4:7).
4. Considere a Singularidade do seu Pregador: Nenhum pregador é igual ao outro. Certa vez, Philip Brooks disse: "[A pregação] é a verdade através da personalidade." Quaisquer que sejam as críticas feitas contra essa definição, há uma forma de apreciar a exatidão dela. Da mesma forma, Richard Sibbes certa vez escreveu: "Os ministros são a boca de Cristo [...] e por um homem não ser tão apto quanto outro, por toda variedade de condições e personalidades, por isso, Deus dá uma variedade de dons aos seus ministros, para que eles possam bater à porta do coração de cada homem por meio desses muitos dons." Os homens são dotados diferentemente para a pregação. Esperar que o seu pregador seja como o seu pregador favorito da internet ou ao seu herói da história, é, pelo menos ao meu ver, desrespeitar o Doador dos dons, e aproxima-se perigosamente da divisão coríntia: "'Eu sou de Paulo', e outro: 'Eu sou de Apolo'" (1Co 3:4).
5. Faça Distinção entre o Preceito e a Preferência: o "o que" da pregação sempre é cuidadosamente definido pelo texto bíblico. Paulo disse: "Pregue a palavra" (2Tm 4:2). Mas o "como" da pregação — como a Palavra é proclamada, parece amplamente preferencial. Não me parece que técnicas, métodos, e detalhes pelos quais a verdade é declarada são cuidadosamente ditados na Bíblia. Isso não significa que preferências são ruins em si mesmas, ou que elas não possam nos guiar, enquanto as reconheçamos como preferências. Infelizmente, muitos não estão dispostos a fazer isso. Eles querem que suas preferências sejam preceitos, e então fazem o pregador refém do seu gosto ou desgosto particular. Até mesmo o Diretório para Adoração Pública de Westminster, cujo método eu creio ser a melhor declaração sobre pregação, refreia si mesmo, dizendo: "Esse método não é prescrito como necessário para todos os homens."
Meu objetivo ao escrever tudo isso — primeiramente — é redirecionar você. Frequentemente nós queremos assumir que o problema começa no púlpito, quando na verdade ele começa conosco. Meu objetivo não é livrar o pregador da culpa. Qualquer pregador que valha o peso do seu púlpito em ouro será "diligente nestas coisas; [dedicando-se] inteiramente a elas, para que todos vejam o seu progresso" (1Tm 4:15). Mas se você está tendo dificuldades com a pregação do seu pastor, como às vezes acontece, comece por aqui, consigo mesmo. Quando você puder dizer com integridade e confiança que você fez todo o possível para ouvir a pregação da Bíblia com proveito, mas ainda tem dificuldades, procure o seu pastor ou um presbítero e, humildemente, e se submeta a sua ajuda pastoral. Espero que eles tenham sabedoria, graça e compaixão para resolver isso a fim de que a Palavra de Deus progrida para o arrebanhamento e aperfeiçoamento dos santos.
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Tradução de Thiago McHertt
Texto original disponível aqui.