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Pertencer a Cristo


Até mesmo ímpios desejam ser salvos do inferno. Ao ser informado de que a justa pena aplicada por Deus por uma vida de pecado é o tormento eterno no lago de fogo, o primeiro desejo do ser humano é fugir. Inúmeras pessoas motivadas apenas pelo egoísmo, por não querer sofrer, já buscaram algum conforto no evangelho.


Certamente pessoas foram e ainda serão salvas se achegando ao evangelho com motivações egoístas. Verdade também é que essas motivações serão transformadas na regeneração e mortificadas na santificação (Rm 8:13).


Cristo, ao nos salvar da ira de Deus, nos salva também da miserável escravidão do ego na qual nos encontramos à parte d'ele. O novo nascimento transforma o âmago do ser humano — muda sua mente. Aqueles que antes amavam e viviam para si mesmos, agora passam a amar e viver por aquele que os amou primeiro (1Jo 4:19). O mundo continua vivendo para si mesmo, mas quando a verdade da Escritura é aplicada ao coração do homem pelo Espírito Santo, ela o guia a "amar a Deus de todo o coração, todo entendimento, toda alma e todas as forças; e amar o próximo como a si mesmo" — Mc 12:33.​


Esta verdade que traz vida ao pecador é a obra de Cristo — o maldito sobre o madeiro. Jesus Cristo morreu por um objetivo específico, e ao pensarmos sobre isso nossa inabilidade em cumprir os requerimentos da lei divina é o que se destaca (Gl 3:13). A nossa situação, nossa necessidade e aquilo que recebemos nos é diretamente comunicado — precisamos de um salvador e Jesus realmente nos salva; mas a história não acaba por aqui.


"Ele morreu por todos¹ para que aqueles que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou" — 2Co 5:15.


O sangue de Cristo não foi derramado apenas para nos salvar da nossa triste condenação ou nos dar privilégios. Ele comprou para si mesmo a igreja de Deus, para que esta viva por aquele que a comprou com o Seu próprio sangue (At 20:28).


Comumente coloca-se a ênfase da obra da cruz sobre os benefícios desta e não nas consequências, porém o próprio Cristo deixou-nos ambos explicitamente claros: "Quem quiser salvar a sua vida, a perderá, mas quem perder a vida por minha causa e pelo evangelho, a salvará" (v. Mc 8:35; Mt 16:25 e Lc 9:24. As consequências do evangelho afetam toda a vida do homem — e não somente a vida mas também a morte. Muitos cristão já morreram e ainda muitos morrerão pelo fato de não negarem que pertencem a Cristo.


Para que ficasse claro que cristãos não são apenas seguidores ou receptores de bênçãos, mas sim propriedade divina; Deus inspirou Paulo a escrever isso aos Coríntios, como também aos Romanos: "Nenhum de nós vive apenas para si, e nenhum de nós morre apenas para si. Se vivemos, vivemos para o Senhor; e, se morremos, morremos para o Senhor. Assim, quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor. Por esta razão Cristo morreu e voltou a viver" — Rm 14:7-9.


O senhorio de Cristo não é algo que podemos adaptar a nossa própria agenda, algo que irá se amoldar aos nossos próprios planos e objetivos. Jesus morreu para vivermos para ele, para fazermos tudo convergir para sua glória. Não para vivermos no mesmo egoísmo de antes, mas agora sem o peso da condenação; mas para que cada mínima coisa em nossa vida o glorifique (Rm 11:36; 1Co 10:31).


Jesus "morreu e ressuscitou" para vivermos por ele. Toda nossa devoção nunca será vã pois Cristo ressuscitou (1Co 15:14)! E não apenas isto, ele está a direita do Pai intercedendo por nós (Rm 8:34) até que chegue o tempo em que Cristo cumprirá a sua promessa: "Voltarei e os levarei para Mim, para que vocês estejam onde Eu estiver" — Jo 14:3.


Examinemo-nos (2Co 13:5)! Como cristãos continuamos vivendo para nós mesmos? É nosso dever abraçar toda a verdade da Escritura — ortodoxia — e vivê-la praticamente dia após dia — ortopraxia — (v. Tg 1:22). Consideremos portanto o nosso Senhor a cada momento, consideremos seu senhorio e sua suficiência.


Na nossa vida e na nossa morte levemos em consideração nosso proprietário. Cristo nos é suficiente! Ele é a fonte de águas vivas, jamais teremos sede outra vez (v. Jo 4:14)! Ele nos liberta do nosso egoísmo doentio, jamais teremos de cavar nossas próprias cisternas outra vez (v. Jr 2:13)! Somos d'ele e n'ele temos tudo o que precisamos.


| Notas:

| 1. Meu objetivo neste artigo não é discorrer sobre a abrangência da expiação. Para uma breve apresentação deste versículo sugiro a leitura da quarta parte do livro "A Morte da Morte na Morte de Cristo" de John Owen, disponível gratuitamente em nosso website.

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