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A Crise de Nosso Tempo


Historiadores tem batizado o séc. XIII como a "Era da Fé" e denominado o séc. XVIII como a "Era da Razão". O séc. XX foi chamado por muitos nomes: A "Era Atômica", a "Era da Inflação", a "Era do Tirano", a "Era de Aquário". Mas a era moderna merece mais um nome além destes: A "Era do Irracionalismo". Intelectuais contemporâneos são anti-intelectuais. Filósofos contemporâneos são antifilosofia. Teólogos contemporâneos são antiteologia.


Em séculos passados, filósofos seculares geralmente acreditavam que o conhecimento era possível ao homem. Consequetemente eles usaram uma grande quantidade de pensamento e esforço tentando justificar o conhecimento. No séc. XX, contudo, o otimismo dos filósofos seculares quase desapareceu. Eles perderam a esperança de conhecimento.


Como seus opositores seculares, os grandes teólogos e doutores da igreja ensinavam que o conhecimento é possível ao homem. Porém os teólogos do séc. XX repudiaram esta crença. Eles também perderam a esperança de conhecimento. Este ceticismo radical penetrou completamente nossa cultura desde a televisão até a música e a literatura. O cristão no começo do séc. XXI é confrontado com um imenso consenso cultural - às vezes exposto explicitamente mas mais frequentemente exposto implicitamente: O homem não sabe e não pode saber nada verdadeiramente.


O que isso tem a ver com o cristianismo? Simplesmente isto: Se o homem não pode conhecer nada verdadeiramente, ele verdadeiramente não pode conhecer nada. Nós não podemos saber que a Bíblia é a palavra de Deus, que Cristo morreu pelo seu povo ou que Cristo está vivo e hoje assentado à destra do Pai. A menos que o conhecimento seja possível, o cristianismo é sem sentido, pois afirma ser conhecimento. O que está em jogo no início do séc. XXI não é simplesmente uma doutrina singular como o nascimento virginal ou a existência do inferno, mesmo sendo estas doutrinas tão importantes como são; mas o próprio cristianismo como um todo. Se conhecimento não é possível ao homem, argumentar pontos doutrinários é mais que estupidez - é insanidade.


O irracionalismo da era presente é tão consumado e penetrante que mesmo o remanescente - o segmento da igreja professa que se mantêm fiel - tem aceitado muito deste pensamento, frequentemente sem nem mesmo estar consciente do que se está aceitando. Em alguns círculos religiosos este irracionalismo tem se tornado sinônimo de piedade e humildade e aqueles que se opõem a isto são acusados como racionalistas, como se ser lógico fosse pecado. Nossos contemporâneos antiteólogos estabelecem uma contradição e a chamam de mistério. Os fiéis pedem por verdade e recebem paradoxo e antinomia¹. Se qualquer um resistir a engolir estes absurdos dos antiteólogos que ensinam ou se formaram no seminário, será frequentemente marcado como herege ou um cismático que busca agir independente de Deus.


Não há maior ameaça encarando a verdadeira igreja de Cristo neste momento do que o irracionalismo que agora controla completamente a nossa cultura. O totalitarismo, culpado por milhões de assassinatos - incluindo milhões de cristãos - deve ser temido, mas não tanto quanto a idéia de que não sabemos e não podemos conhecer a verdade literal. Hedonismo, a filosofia popular da América, não deve ser tão temida quanto a crença de que a lógica - aquela "lógica meramente humana", para usar a própria frase dos religiosos irracionalistas - é fútil. Os ataques contra verdade, contra o conhecimento, contra revelação proposicional, contra o intelecto, contra a linguagem, e contra lógica são renovadas diariamente. Mas veja bem: Os deslogistas - os odiadores de lógica - usam lógica para demonstrar a futilidade de se usar lógica. Os anti-intelectuais constroem argumentos intelectuais complexos para provar a insuficiência do intelecto. Aqueles que negam a competência da linguagem para expressar pensamentos usam a linguagem para expressar seus pensamentos. O proponentes da poesia, mito, metáfora e analogia argumentam por sua teorias usando prosa literal, cuja competência - e até mesmo possibilidade - eles negam. Os antiteólogos usam a revelada Palavra de Deus para mostrar que não pode se haver palavra revelada de Deus - ou que se pudesse, esta continuaria a ser uma escuridão impenetrável e um mistério para nossas mentes finitas.


O Absurdo Chegou...


É de algum assombro que o mundo esteja se segurando em palhas² - as palhas do existencialismo, misticismo e das drogas? Após tudo, se é dito às pessoas que a Bíblia contém mistérios insolúveis, então não devemos nós esperar uma fuga para o misticismo? Com base em quê isto pode ser condenado? Certamente não será com base lógica ou bíblica, supondo que a lógica é fútil e a Bíblia ininteligível. Além do mais, se isto não pode ser condenado com base lógica e nem mesmo com base bíblica, isto não pode ser condenado de maneira alguma. Se as pessoas forem escolher uma religião de mistério, elas não adotarão o cristianismo: Elas escolherão uma genuína religião de mistério. A popularidade do catolicismo romano, o misticismo oriental, substâncias entorpecentes e experiências religiosas são a consequência lógica do irracionalismo do séc. XX. Não pode haver e não haverá reforma cristã a menos, e antes que o irracionalismo desta era seja totalmente repudiado pelos cristãos.


| Notas:

| 1. Contradição ou oposição entre dois princípios ou conclusões que são ambos razoáveis. Sinônimo de paradoxo.

| 2. No original "Grasping At Straws". Expressão para uma tentativa fútil de dependência em algo que não oferece segurança.

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Tradução de David Cecilio

Original em Robins, Christ & Civilization, p. 50-52.

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