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O Verbo se Fez Carne


Se alguém pedisse para você resumir a mensagem básica da fé cristã em somente um verso da Bíblia, qual você escolheria? Talvez João 3:16? Romanos 5:8? Efésios 2:8? É certo que esta é uma pergunta injusta, pois nenhum verso da Escritura nos diz tudo o que Deus quer que saibamos sobre o Seu plano para nos redimir e salvar do pecado e da morte. Mas se eu fosse forçado a responder essa questão, o verso que eu escolheria seria João 1:14: “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a Sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.


Esse verso descreve a encarnação, o fato central de toda a Biblia. Essa é a chave para o entendimento de tudo o mais que as Escrituras ensinam sobre Deus, os seres humanos, o sentido da história, o tempo e a própria vida. E o que a encarnação significa? Simplesmente isso: Que o único, eterno, Deus triúno de santidade e amor; o próprio Deus que criou o mundo e tudo nele há; Ele mesmo, o verdadeiro Deus, entrou no mundo que fez, e Ele fez isto na mais pessoal e íntima das formas - como um bebê em uma manjedoura, como um homem em um madeiro.


Jesus Cristo, o filho de Deus encarnado, foi assim um ser humano real e ainda, ao mesmo tempo, verdadeiramente divino, “Deus verdadeiro de Deus verdadeiro”¹, como os primeiros cristãos confessavam. A doutrina da encarnação é única entre as religiões do mundo, e isso difere o Cristianismo de todos os outros caminhos de salvação professados.


A doutrina da encarnação ensina que Jesus Cristo é o único filho do Pai celestial. Por meio de Sua vida, morte e ressurreição, Deus agiu de forma decisiva para resgatar homens e mulheres perdidos no pecado e egoísmo. Jesus não é apenas uma grande figura do passado, um homem de renome como Júlio César ou Napoleão. Ele está vivo hoje! Através da mensagem da Bíblia e do poder do Espírito Santo, Ele ainda convoca todas as pessoas em todos os lugares a abandonar seus pecados, crer n'Ele, seguí-Lo em suas vidas diárias, compartilhar seu amor com os outros e estar prontos para encontrá-Lo quando Ele vier de novo para trazer paz e justiça para a terra. Ser cristão é receber o perdão que Jesus oferece e confessá-Lo como seu Salvador e Senhor pessoal.


Embora os cristãos têm proclamado a mensagem da encarnação por 2.000 anos, ainda é um fato extraordinário, chocante para alguns, escandaloso para os outros. A encarnação significa que o cristianismo não pode ser reduzida para o seguinte:


Uma filosofia de vida: Jesus não é um Sócrates com uma barba, nem um Platão com um sotaque judaico. Ele não deu palestras sobre a natureza da realidade, a ciência do conhecimento ou a estrutura do universo.


Um código de comportamento: ​Ninguém recebe a vida eterna mantendo um certo conjunto de regras, seguindo as obras da lei ou fazendo o melhor que ele ou ela pode.


Um movimento político: Jesus não se juntou aos revolucionários políticos de sua época, e Ele permanece soberano sobre toda a política hoje.


A encarnação tem sido mal entendida e distorcida em dois opostos, mas em direções igualmente perigosas. De um lado, há aqueles que são tão enfáticos sobre a humanidade de Jesus que eles tem negado ou minimizado Sua divindade. Na Igreja primitiva, haviam aqueles que disseram que Jesus era meramente um grande mestre ou profeta que havia sido “adotado” por Deus para um status mais elevado, mais exaltado. Semelhantemente, hoje alguns negam o miraculoso elemento dos Evangelhos e descrevem Jesus como um mestre com palavras de sabedoria que nunca afirmou ser nada mais do que um sábio rabino.


Mas, quando os primeiros cristãos refletiram a vida de Jesus, perceberam que eles tinham estado em contato com a realidade e poder que só poderia ser entendida como a presença do próprio Deus no meio deles. Isso é o porque a Igreja Primitiva confessava nos batismos quando eles declaravam, “Kyrios Iesus Christos” - Jesus Cristo é o Senhor.


No outro lado estão aqueles que tem ido para o extremo oposto. Eles tem levantado a divindade de Jesus de tal forma que eles tem minimizado Sua humanidade. No segundo século, alguns gnósticos sustentavam uma visão de Cristo conhecida como docetismo (do grego dokeo: parecer ou aparecer). Eles pensavam que Jesus não teve um corpo humano real, Ele somente apareceu como um humano. No entanto, o Jesus que conhecemos nos Evangelhos é completamente humano, assim como é completamente divino. Ele sabe o que é a experiência de ter fome (Mt 4:2), sede (Jo 19:28), cansaço (Jo 4:6), tristeza (Jo 11:35,38) e agonia (Mc 14:32-42). Em uma certa ocasião Jesus mesmo reconheceu que Ele não sabia a data precisa do Seu retorno (Mc 13:32).


Alguns cristãos bem-intencionados hoje parecem quase envergonhados por estas marcas da humanidade de Jesus. No entanto, a doutrina da encarnação nos ensina que não há profundidade do sofrimento ou limitação que o Filho de Deus não estava disposto a aceitar por nós. Longe de nós pensar menos de Jesus, esta grande verdade bíblica deveria nos inspirar para elevá-Lo ainda mais.


Hebreus 4:14 fala-nos que Jesus, agora nos céus, é o nosso Sumo Sacerdote. Existe dois enormes benefícios que todos os crentes recebem por ter tal mediador fiel à direita do Pai.


Primeiro, nós temos um amigo, um advogado que está com o Pai e que compreende as nossas fraquezas e tentações, visto que Ele também foi posto à prova de todas as formas que podemos ser postos à prova. Diferente de nós, Ele nunca rendeu-se as tentações. Mas Ele sabia o que era ter o sussurro do diabo em seu ouvido, ser traído por um discípulo e negado por outro, tremer e gemer dentro de seu espírito e enfrentar as hostes do inferno em um momento de crise. Portanto, “não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado” - Hb 4:15.


Segundo, porque o Cristo encarnado é verdadeiramente humano assim como plenamente divino, temos uma porta aberta através da oração para o próprio coração de Deus. Podemos chegar com confiança diante do trono da graça. Nós não seremos rejeitados, mandados embora ou mesmo nos sentiremos indesejados. Em nossos momentos de maior necessidade vamos encontrar misericórdia e graça em Cristo, cujos braços foram abertos na cruz - como se quisesse abraçar o mundo todo - e está agora no céu com os braços ainda estendidos. Suas mãos com as marcas dos cravos ainda acenam, "Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados” - Mt 11:28-30.


Na Idade Média, Anselmo, um grande teólogo, perguntou: "Por que Deus tornou-se homem?", em um hino chamado, “There is a Green Hill Far Away”, Cecil Frances Alexander dá esta resposta:


"Não havia outra bondade suficientepara pagar o preço do pecado,somente Ele poderia abrir o portãodo céu, e nos deixar entrar."


Agora no céu, Jesus nosso Redentor, uma pessoa em duas naturezas, tendo pago o preço por nossos pecados pela Sua morte substitutiva na cruz, por meio de Seu Espírito nos dá a Sua presença e poder. Diante de um salvador tão maravilhoso, a teologia torna-se doxologia²? Nós cantamos nas palavras do conhecido cântico de Natal:


"Velado na carne a divindade seguiu até o fim,Salve a divindade encarnada!Desejou como homem com o homem habitar,

Jesus, nosso Emmanuel!”.



| Notas:

| 1. Citado a partir do Credo Niceno-Constantinopolitano.

| 2. Expressão de louvor a Deus. Literalmente, "palavra de glória".

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Tradução de Lidi Cecilio

Texto original disponível aqui.

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