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Recomendações aos Candidatos a Missões


Para a Associação de Missionários Estrangeiros da Instituição Literária e Teológica Hamilton em New York.


Queridos irmãos,


Sua carta enviada no último mês de Novembro, escrita pelo seu Secretário Correspondente, Sr. William Dean, está diante de mim. Esta é uma das poucas que eu me sinto chamado a responder, pelo fato de vocês terem pedido meu conselho em alguns assuntos importantes. Há também, nos sentimentos que vocês expressaram, algo tão afetuoso para mim, que sinto meu coração unido aos membros da sua associação, e ao invés de uma resposta comum, desejo estabelecer algumas diretrizes, as quais podem ser úteis para vocês em sua conduta futura. Estas diretrizes deverão ser breves, pois a falta de tempo me impede de discorrer sobre o tema.


Começando minhas recomendações, eu o aceito assim como você é. Você está contemplando uma vida missionária.


Primeiro: deixe que seja uma vida missionária; isto é, saia para a vida toda e não por um tempo limitado. Não pense que você tem um verdadeiro espírito missionário enquanto o tempo todo está pretendendo deixar os pagãos assim que aprender seu idioma. Deixá-los! Para quê? Para gastar o resto do seus dias aproveitando a facilidade e o conforto de sua terra natal?


Segundo: Ao escolher um companheiro para vida, considere principalmente uma boa estrutura, e não traga inconsequentemente ou sem uma boa causa, um fardo para vocês mesmos ou para a missão.


Terceiro: Não seja voraz ao fazer o bem durante a viagem. Missionários tem frequentemente causado mais prejuízo do que ajuda, por causa de um zelo imprudente durante a ida para o campo missionário.


Quarto: Tome cuidado para que a atenção que você recebe em casa, as desfavoráveis circunstâncias nas quais você será colocado durante sua viagem e os maus exemplos de outros missionários que você pode possivelmente encontrar em algumas bases missionárias, não transformem você de um missionário vivo para um mero esqueleto antes de você chegar ao seu destino. Pode ser proveitoso para você ter em mente que grande parte daqueles que vem em missões para o Oriente, morrem 5 anos após deixarem sua terra natal. Portanto caminhe suavemente; a morte está assistindo de perto seus passos.


Quinto: Cuidado com as reações que acontecerão assim que você chegar ao seu campo de trabalho. Ali você poderá encontrar cristãos nativos, cujos méritos e desméritos você não poderá julgar corretamente sem algum convívio familiar com a linguagem deles. Algumas coisas que você poderá ver podem desapontar e enojar você. Você encontrará com desapontamento e desencorajamento - por que é impossível formar uma idéia correta por meio de relatos escritos - e isso levará você a, inicialmente, quase lamentar ter embarcado na causa. Você irá ver de perto homens e mulheres que você estava acostumado a ver através de uma luneta a alguns milhares de quilômetros de distância. Tal instrumento é inclinado à exagerar. Cuidado, portanto, com as reações que você experimentará a partir da combinação de todas essas causas, para que você não desanime no começo do seu trabalho ou leve-o a um preconceito contra algumas pessoas e lugares, o que irá amargar toda sua vida futura.


Sexto: Cuidado com a maior reação que acontecerá após você ter aprendido a língua e se tornar cansado e desgastado com a pregação do evangelho a um povo que te contradiz e desobedece. Você desejará algumas vezes um retiro tranquilo, onde você poderá encontrar descanso de esforçar-se na labuta do trabalho com os nativos - a incessante e insuportável forja missionária. O Diabo irá simpatizar com você nesse assunto, e ele irá apresentar alguma capela fácil, na qual você poderá oficiar em sua língua nativa, algo como professor ou editor, alguma carreira literária ou científica, alguma tradução supérflua, ou, pelo menos, algum sistema de escolas; nada que - sinceramente - irá ajudá-lo, sem custar uma grande renúncia do seu caráter, para poder escapar do real trabalho missionário. Tal tentação o levará a um ataque da sua doença. Se sua estrutura espiritual puder suportar isso, você recupera-se; se não, você morre.


Sétimo: Cuidado com o orgulho. Não com o orgulho dos orgulhosos, mas com o orgulho dos humildes - aquele orgulho secreto que é inclinado a crescer por sentirmos que somos estimados por homens grandes e bons. Esse orgulho algumas vezes devora as partes vitais da fé antes de suspeitarmos sua existência. Afim de reprimir sua operação, é bom lembrar como nós parecemos aos olhos de Deus e como deveríamos parecer aos olhos dos nossos semelhantes, se tudo fosse conhecido por eles. Tente deixar tudo ser conhecido. Confesse suas faltas livremente e publicamente, como as circunstâncias requererem ou admitirem. Quando você tiver feito algo pelo qual está envergonhado, pelo que, talvez, alguém foi enjuriado - e quem está livre disto? - esteja feliz não apenas em reparar seu erro, mas beneficie-se da oportunidade para subjulgar seu pecado.


Oitavo: Nunca guarde¹ dinheiro para você mesmo ou sua família. Confie em Deus dia após dia e você verdadeiramente será alimentado.


Nono: Cuidado com a preguiça que leva à negligência do exercício físico. A saúde precária e a morte precoce da maior parte dos europeus no Oriente deve ser eminentemente atribuída a mais deliberada negligência de exercício físico.


Décimo: Cuidado com a vida refinada. Mantenha o menor contato possível com a elegante sociedade européia. O estilo de vida adotado por muitos missionários no Oriente é bastante inconsistente com aquela relação familiar com os nativos que é essencial para o missionário.


Existem várias diretrizes de auto negação que eu gostaria de abordar, mas a consciência de minha própria deficiência me constrange ao silêncio. Não abordei também alguns pontos de vital importância, sendo meu objetivo selecionar aqueles que parecem não ter sido notados ou aplicados. Espero que vocês me desculpem pelo tom de monitoramento que eu tenho ocasionalmente adotado. Asseguro a vocês, eu não desejo ofendê-los.


No que diz respeito as suas perguntas quanto aos estudos, qualificações e demais coisas, nada me ocorre que eu pense ser particularmente útil, exceto a simples observação de que temo que importância demais seja colocada sobre o que é chamado de uma completa educação clássica.


Orando para que vocês possam ser guiados em todas as suas decisões, e que eu possa ainda ter o prazer de receber alguns de vocês nestas terras pagãs.


Eu permaneço.


Seu carinhoso irmão,Adoniram Judson.

Maulmain, Burma, 25 de Junho de 1832.


| Notas:

| 1. Cf. Mt 10:7-10. Embora não descartamos o ensino bíblico de sermos prudentes no uso do dinheiro e de fazer economias.


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Tradução de Thiago McHertt

Original em The Life of Adoniram Judson, Apêndice D.

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