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O Problema da Igreja de Classe-Média na Segunda Metade do Séc. XX


É a minha esperança que este livro¹ possa ser útil em ajudar o evangelicalismo ortodoxo² para que este seja uma matéria de força e beleza na segunda metade do séc. XX.


A fim de que o evangelicalismo seja desta forma, três princípios devem ser observados:


  1. A completa posição doutrinária do cristianismo histórico deve ser claramente mantida.

  2. Toda questão honesta deve receber uma resposta honesta. É anti-bíblico para qualquer um dizer: "Apenas creia".

  3. Deve haver uma exibição individual e corporativa de que Deus existe em nosso século, a fim de mostrar que o cristianismo histórico é mais do que apenas um diálogo³ superior ou um melhor ponto de integração psicológica.


Há duas porções de nossa sociedade com as quais, em geral, temos falhado em nos comunicar - os intelectuais de um lado, e os trabalhadores de outro. O problema de nossas igrejas serem amplamente de classe média⁴ se torna realmente urgente tanto pela comunicação falha, quanto por que os trabalhadores e intelectuais não aceitam mais esta realidade da classe média em casa ou na igreja local.


Nas áreas de importância crescente que são as das ideias e aplicação da moral, a maioria das igrejas tem pouco a dizer tanto aos intelectuais quanto aos trabalhadores ou, muito frequentemente, para os jovens de lares cristãos.


Trabalhando na Suíça, temos recebido muitos filhos de cristãos honestamente confusos, os quais vêem de muitos países diferentes. Frequentemente, eles acham que as respostas que tem sido dadas a eles não tocam aqueles problemas que são os seus problemas. Mas esta observação não é apenas adquirida daquelas muitas pessoas que vêem a nós na Suíça, mas também por viajar muito sobre o mundo ocidental, palestrando em muitos lugares.


Esta é portanto a minha considerada opinião, que se hoje a Igreja está realmente preocupada em sair de seu formato de classe média e encontrar os intelectuais, trabalhadores e jovens onde eles estão, ela deverá fazer um esforço honesto e corajoso para implementar todos os três dos princípios acima. É assim que nós que estamos trabalhando juntos na comunidade L'Abri temos buscado através da graça de Deus, mesmo que totalmente de forma inadequada, colocá-los em prática, de modo que temos visto muitos homens e mulheres do séc. XX sendo alcançados pelo evangelho. Seria nossa conclusão que todos os três pontos são imperativos, onde quer que a Igreja estiver resoluta em querer falar a estes de nossa geração.


Nós não pensamos que o material e a perspectiva deste livro seja encerrada à algumas poucas obras cristãs exóticas que se dirigem à um grupo internacional de pessoas criativas e intelectuais. Uma porção daqueles que tem gasto tempo para compreender este material estão agora o usando com resultados muito encorajadores com pessoas sem estudo. Por isto nós somos gratos.


Mas ainda mais, nós estamos convencidos de que o uso abrangente desse material seria também de ajuda dentro das igrejas e instituições de "classe-média" que tanto compõem o evangelicalismo e ortodoxia hoje em dia. Em primeiro lugar, isto daria uma nova dimensão de riqueza em Cristo para aquelas igrejas, missões e instituições. Em segundo lugar, seria muito mais difícil para aqueles que, ao redor destes, estão prestes a eliminá-los como uma subcultura, apenas representando grandemente o ontem. Em terceiro lugar, eles protegeriam sua própria próxima geração. O cristãos tem estado em risco não apenas de não entender, mas de não levar a sério os problemas de seus filhos.


Eu devo dizer que eu estou profundamente incomodado não apenas pelo o que encontro no meio de nossas igrejas ocidentais, mas também pelos problemas que encaro no meio de cristãos convertidos de outros países. Em muitas ocasiões enquanto palestro para grupos internacionais, eu me sinto despedaçado por aqueles de países estrangeiros que tem sido educados em escolas missionárias e então são enviados despreparados para o mundo do séc. XX.


A obra do Espírito Santo nunca deveria ser minimizada, mas em nenhum lugar nas Escrituras nós encontramos a obra do Espírito Santo sendo apresentada como uma desculpa para preguiça e falta de amor por parte daqueles com responsabilidade cristã. Nem é o Espírito Santo alguma vez antiquado no mal sentido da palavra.


Um aviso. Compreender e aplicar os princípios que temos buscado afirmar não é apenas memorizar uma estrutura ou terminologia; esta seria apenas mais uma coisa morta. Uma das alegrias em nosso trabalho é ver quantos jovens e mais professores maduros estão carregando este pensamento em suas próprias disciplinas acadêmicas e artes, e estão as desenvolvendo ao longo do curso que seus próprios campos de interesse seguem.


Enquanto nós buscamos enfrentar os problemas, há duas coisas que vigorosamente nós devemos nos esforçar para evitar, quer estejamos engajados em ensinamento, obra missionária ou em algum aspecto da vida de nossa igreja local.


Primeiro: devemos evitar estabelecer e admitir a presente situação simplesmente por causa da inércia causada por aqueles que falam sobre o problema dos jovens de igreja e que muito falam sobre missões, mas que simplesmente não querem questionar a realidade familiar pois é doloroso fazê-lo. O problema é que as igrejas ortodoxas, evangelicais, instituições e programas estão hoje com muita frequência sobre o controle daqueles nesta categoria. Este controle é tanto organizacional quanto financeiro. Assim, há uma tendência de não se "balançar o barco"⁵. Esta responsabilidade não pode ser atendida pelos próprios jovens, nem pelos jovens ministros e missionários sozinhos.


Cristãos maduros, cristãos em posição de responsabilidade, devem tomar a coragem para distinguir, sob o Espírito Santo, entre as verdades bíblicas imutáveis e as coisas que meramente se tornaram confortáveis para nós. Frequentemente se ouve pessoas falando sobre a pregação do "simples evangelho somente", quando na verdade elas não se importam realmente com aqueles de fora da igreja, ou com seus próprios filhos em relação a essa questão, a ponto de estarem dispostas a encarar o que a pregação do simples evangelho pode significar em uma situação mutável e complexa.


Segundo: devemos evitar o desenvolvimento de um snobismo ou elitismo intelectual e cultural. Isso pode facilmente acontecer a menos que nós ajudemos uns aos outros a não cair nisto. Tal atitude ofende o Espírito Santo, destrói ao invés de construir e é ofensivamente repulsiva como qualquer outra coisa pode ser.


Nós cometeremos erros, mas pela graça de Deus nós devemos nos esforçar para evitar cada um destes dois erros ou uma escolha entre um deles.


Depois de considerável reflexão e experiência prática em provar isto em vários países, eu sugeriria que os dois princípios a seguir fossem mantidos em mente enquanto nós treinamos nossos jovens para tomar o seu lugar na obra cristã de nossos tempo.


Primeiro de tudo, deve ser lembrado que aqueles que constituem o corpo das igrejas e das instituições também são ovelhas de Deus. Eles precisam de cuidado e ajuda tanto quanto os intelectuais, as pessoas criativas e os jovens que estão se tornando pessoas do séc. XX. Quando um pastor é chamado para ir a uma igreja particular, seu chamado é ministrar a toda a congregação. Aqueles que não se importam com os novos problemas devem ser alimentadas e pastoreadas. Portanto, a pregação e ensinamento geral na igreja evangelical de classe-média não deveria ser de tal natureza a confundir, machucar ou sub nutrí-los.


Por outro lado, nada deveria ser pregado ou ensinado em cultos gerais e em classes que deverá de ser desaprendido quando jovens e outras pessoas lerem e discutirem os problemas mais profundos ou irem para a faculdade. Eu sugeriria que toda escola dominical, classe bíblica e material educacional deveria ser preparado com esta mente. Nós deveríamos perguntar a nós mesmo a questão: "este material é de tal natureza que poderia ser estendido por dezoito anos de estudo honesto sem se provar falso?"


Isto tencionará mais atenção a preparação dos sermões, material para as aulas, notas de estudo bíblico e assim por diante. Nem todos serão igualmente aptos à isso, mas cada um poderia ser ajudado se escolas cristãs, seminários e universidades teológicas, escolas bíblicas, institutos de treinamento missionário e casas publicadoras estabelecessem um programa com o propósito de evitar cometer erros e omissões antigos e incluíssem em suas equipes alguém que tenha sido treinado a pensar em uma apologética totalmente cultural. O programa poderia ser estabelecido para ser operativo à uma dada data, por exemplo em um período de três anos.


Assim, minha primeira sugestão seria: o ensinamento geral e pregação deveria ser de uma natureza tal que alimente e ajude aqueles que constituem o corpo da congregação e instituição, tendo ainda em mente que nada deve ser dado que tenha de ser desaprendido quando problemas mais profundos forem enfrentados no futuro.


Em segundo lugar, eu sugeriria que ocasiões especiais fossem separadas nas igrejas, instituições e missões para que aqueles que estão vivendo ou começando a enfrentar os problemas do séc. XX possam receber o que eles precisam. A ocasião poderia ser uma conversa, discussão ou seminário. Seria valioso se aqueles que alegam não ter filiação na Igreja pudessem também ser trazidos à discussão. Isso não tem de ser um grande ajuntamento ou algo extensivamente divulgado, mas sim um ajuntamento daquelas pessoas na Igreja e fora dela que desejam participar. Essa participação não tem de ser puramente intelectual, pois se formos fundo o suficiente em questões intelectuais, chegaremos aos problemas e realidades espirituais profundos. E quando vamos fundo o suficiente espiritualmente, tocamos nos verdadeiros problemas e realidades intelectuais.


Homens e mulheres treinados desta forma terão então a oportunidade, quando forem para outros países ou para territórios estranhos no seu próprio país, de entender quais são os problemas do séc. XX que as pessoas enfrentam.


Então me parece que um curso de homilética e apologética que não busca conscientemente implementar aquelas duas sugestões hoje é uma real preparação para o fracasso e pesar.


Conferências cristãs, etc. poderiam ter um espaço para tratar daquelas considerações em um nível mais profundo e extenso. Certamente, também, aqueles que tem responsabilidade por programas cristãos de rádio e televisão poderiam pelo menos encontrar um pequeno espaço para aqueles que, em vários lugares, compõe a maioria da população.


Desta forma todos poderiam ser alimentados e, se isto não fosse implantado muito rapidamente, mas ao invés com muita ênfase no crescimento espiritual e no amor bem como no entendimento, na maioria dos casos não teria de existir duas "igrejas" sob o mesmo telhado, nem um atrito entre elas.


Ainda, eu diria, ouvir alguns murmúrios vale mais a pena do que permitir que aqueles que estão fora, ou nossos próprios jovens que estão procurando por respostas reais, se asfixiem no tão presente empoeiramento.


| Notas:

| 1. O Deus que Intervém. Francis Schaeffer. Ed. Cultura Cristã.

| 2. Movimento evangélico que surgiu após o fundamentalismo prezando manter a ortodoxia embora sem definir suas fronteiras doutrinárias de forma separatista.

| 3. No original: Dialética - Um processo no qual através do "diálogo" entre uma ideia - tese - e outra oposta - antítese - se alcança uma melhor ideia resultante - síntese.

| 4. Este termo não é aqui usado simplesmente como um termo econômico, mas principalmente como indicador daquela classe de pessoas cujas atividades e disposições devido à seu cenário social se distinguem tanto dos intelectuais em seus apelos teóricos quanto dos trabalhadores em seus apelos práticos.

| 5. Expressão da língua inglesa - "rock the boat" - significa perturbar a rotina ou uma situação aparentemente tranquila e correta geralmente causando incômodo naqueles envolvidos na situação.


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Tradução de David Cecilio

Original em Schaeffer, Works, I, p. 189-193.

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